Ana Luísa

 

Eu comecei a pesquisar sobre gravidez logo depois do meu casamento, no final de 2009. Sem querer, acabei caindo em um site sobre parto humanizado e me apaixonei pelo tema. Vi o quanto eu não sabia o que significava um parto para uma mãe e principalmente para um bebê, e decidi que eu ia lutar com unhas e dentes para não ter que passar por uma cirurgia pra tirar a minha filha da barriga e ainda correr o risco de ter que passar por um processo pós-cirurgico com um bebê pra cuidar.

 

Passei mais de um ano lendo, pesquisando, me informando, buscando tudo que está por trás da conveniência médica, tudo que está por trás dos 90% de cesáreas no setor privado brasileiro, quando o indicado é que não se ultrapasse os 15% de nascimentos via cirurgia. Consegui descobrir uma equipe legal pra me acompanhar durante a gestação. Eu já sabia tudo o que queria. Só faltava engravidar.

 

No primeiro mês de tentativas, lá veio um super positivo lindo para alegrar os nossos dias. Ficamos radiantes.

Meu marido não entendia muito porque pagar uma médica particular sendo que tínhamos convênio. Na primeira consulta, ele entendeu a diferença e também que o momento do nascimento era hora de investir e não de economizar. Assim como no casamento, em que queremos os melhores fornecedores que eu pudesse pagar pra nos acompanhar em um dia especial, eu também tinha os mesmos princípios para a gestação. A minha obstetra é show de bola, carinhosa, informadíssima e super preocupada em não fazer intervenções desnecessárias no corpo da mulher. Adorei a postura dela desde o primeiro dia de consulta, sempre jogando a responsabilidade pra mim, dizendo que o parto era meu, o corpo era meu e eu tinha que saber o que ia acontecer comigo.

 

Durante a gestação frequentamos um grupo de apoio para preparação do parto em Campinas. Estas reuniões foram de extrema importância para que eu continuasse no processo de auto-conhecimento e de entendimento. Foi fácil perceber que o parto é um processo fisiológico do corpo. Assim como o sono, a digestão e a gestação, o parto também faz parte do funcionamento do corpo. O nosso corpo sabe trabalhar. Basta deixarmos que ele fique em paz, sem intervenções desnecessárias pra acelerar o processo.

Escolhemos a nossa doula lá pelo sexto mês de gestação.

 

Chegamos às 41 semanas… A partir desse dia, passamos a monitorar a gestação mais de perto com ultrassom e cardiotoco a cada 2 dias. Eu estava tranquila. Sentia que estava tudo bem com a gente. Só que no meio do caminho surgiu uma pedra. No dia em que eu completasse 42 semanas, a minha obstetra sairia de férias, já tinha passagem comprada há tempos e tudo mais e eu sabia disso. Quando chegamos a 41 semanas e 4 dias saí de casa disposta a conversar com ela sobre uma indução. Eu não queria correr o risco de chegar as 42 semanas de gestação e acabar caindo nas mãos de um médico que eu não conhecia. Eu sabia que teria 90% de chances de cair em uma cirurgia desnecessária. Conversei com ela, pedi a indução, avaliamos os prós e contras e decidimos que eu me internaria naquela noite.

 

Durante a tarde, fui passear com o marido no supermercado. Compramos guloseimas para comer durante a noite no hospital. Enquanto andávamos no supermercado, eu sentia minha barriga contrair com força de vez em quando, mas não sentia dor, apenas umas pontadas e uma cólica. Fomos tomar um café e conversar um pouco pra passar o tempo. E a barriga contraía…

Ficamos mais ou menos umas 2 horas no hospital aguardando a internação. E a barriga contraía. E eu estava achando que era normal. Não me toquei que o trabalho de parto poderia estar começando.

Às 19h minha obstetra colocou o primeiro comprimido para preparar o colo do útero. Eu sabia que poderia levar até 24 horas para que a indução desse início ao trabalho de parto e fiquei tranquila.

Por volta de meia noite e meia, o plantonista foi colocar mais um comprimido. Ao me examinar, ele disse que o colo do útero ainda estava bem desfavorável e que eu demoraria bastante pra entrar em trabalho de parto. Eu tinha que esperar 1 hora pra poder levantar e fazer xixi. E a barriga contraía. E eu nem me lembrei de contar de quanto em quanto tempo eu tinha contrações.

 

Não aguentei… 40 minutos depois eu levantei correndo para fazer xixi. Escovei os dentes. Desliguei a TV. Coloquei a cabeça no travesseiro. E dei um grito: uma contração muito forte. O marido acordou com meu grito. E eu ainda falei pra ele: “nossa, uma contração muito forte, acho que ela assustou e chutou”. E de repente… shhh… uma água morninha escorrendo. A bolsa rompeu.

Agora era pra valer. Entrei no chuveiro morno, porque imediatamente após o rompimento, as contrações ficaram um pouco mais doloridas. Fiquei debaixo da água morna e o meu marido sentou-se dentro do banheiro para ficar conversando comigo. Depois de mais ou menos uma hora, eu já tava achando tudo bem dolorido. Peguei a bola de pilates e fiquei debaixo do chuveiro com ela. E pedi pro meu marido chamar a doula.

 

Os minutos se passaram e eu fui ficando cada vez mais fora de mim. Já não sabia mais que horas eram nem quanto tempo se passava entre uma contração e outra. E então a Doula chegou pra me acompanhar. O marido foi tentar descansar um pouco. Eu passei a madrugada toda embaixo do chuveiro, vocalizando. Achei dentro de mim um grunhido que me ajudava a aliviar a dor.

Mas eu fui ficando cansada. Eu não havia dormido bem na noite anterior por causa da ansiedade. Tinha acordado umas 5 da manhã. O cansaço foi me pegando. Eu perdi o foco no trabalho de parto. Eu comecei a focar na dor. E quando eu percebi que estava doendo e pensava na dor, parece que elas ficavam maiores ainda.

A Doula me ajudou a encarar as contrações. Uma por uma. Sem me lembrar da anterior. Sem pensar na próxima que viria.  Eu achava que não ia dar conta. Mas eu não conseguia perceber que eu estava dando conta. Dar conta era aquilo: passar por uma contração de cada vez. Mas eu perdi o foco, comecei a ficar nervosa, e quando a obstetra chegou pra me ver, às 7 da manhã, eu pedi pelo amor de Deus uma analgesia.

Ela me examinou, eu ainda tinha somente 4cm de dilatação. E entre uma contração e outra ela conversou comigo. Disse que ainda era um pouco cedo pra tomar a analgesia, que os riscos de rolar uma parada de progressão no trabalho de parto ficariam maiores e me perguntou se eu aguentava esperar mais um pouquinho.

Combinei com ela que ia esperar mais duas horas. Voltei pro chuveiro. Ai ai ai daqui. Ai ai ai dali.

 

Às 9h30min a obstetra chegou já de touquinha e roupa verde para me levar pro centro cirúrgico. Eu ainda tinha 5cm de dilatação. Por volta das 10h30, tomei a analgesia. As 11h, eu já estava com os 10cm de dilatação. Eu estava tensa e relaxar com a analgesia me fez bem. A dor sumiu, mas eu não perdi os movimentos. Sentia as contrações. Conseguia andar.

E a bebê continuava alta. Dei umas reboladas na bola de pilates, umas dançadinhas, ela foi encaixando e descendo. O efeito da analgesia começou a passar. Comecei a sentir o meu quadril se abrindo pra minha filha passar.

 

Às 11h40, de cócoras, apoiada no meu marido, a minha filha nasceu. Linda, saudável, com 3 circulares de cordão! Nasceu sorrindo. Não chorou. Veio direto para o meu colo. Ficou comigo e depois de ter o cordão cortado, o pediatra a pegou. Enquanto ele a levou pra pesar e medir, eu me levantei e fui andando pra maca, pra esperar a placenta sair. Logo que deitei, ela voltou pro meu colo, enroladinha num cueiro, toda sujinha de vernix, com um cheirinho delicioso. Ficou brincando no meu peito, mas não quis mamar.

Ali a paixão por ela começou a ficar arrebatadora. E a paixão aumenta a cada dia.

 

As lições que eu tiro do meu parto:

– Invista. Vale a pena ter uma equipe em quem você confia e que você sabe que não vai te enganar.

– Tenha uma doula. Elas são fundamentais para ajudar a mulher a manter o equilibrio emocional durante o trabalho de parto.

– Cuidado com as falsas indicações de cesárea. Eu tinha uma bebê que tinha tudo pra ir pra uma cesárea desnecessária se eu não tivesse estudado: 41 semanas e 5 dias de gestação, uma bebê grande, 0 de dilatação e colo grosso com 41 semanas e 4 dias e 3 circulares de cordão.

– Nenhuma mulher recebe contrações mais fortes do que pode aguentar. Basta estar preparada 🙂 Busque um grupo, estude, faça sua parte. E se a dor te pegar de jeito, a analgesia é um direito da parturiente!

 

Mariana

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