Luísa

 

Resolvi reescrever meu relato de parto com a visão de 2 anos e 3 meses após o nascimento da Luísa.

Muita coisa mudou. Tenho muito mais informações e mais exigências também. Acontece que percebi uma ferida enorme que não está cicatrizada e o motivo desse relato, é pra botar pra fora exatamente tudo.

Me sinto culpada em várias partes, e sei claramente que algumas eu não poderia ter o controle. Agradeço por tudo que vivi, não desmereço jamais essa experiência, foi ela que me fez crescer e chegar até aqui.

 

Quando estava grávida eu vi numa comunidade do Orkut que eu frequentava de vez ou nunca, falando sobre um grupo de gestantes e esse grupo era no meu condomínio. Era cômodo e eu uma gestante preguiçosa. Demorei uns 3 meses pra ir. Fui e já estava com quase 30 semanas, sem saber o que esperava do meu parto ou não parto.

Recebi muita informação que nem sonhava, despertei para o parto normal, troquei de médico. Ninguém me orientou que havia uma máfia, eu só achava que parir no SUS era garantia de um parto normal, me indicaram um hospital público e lá fui eu marcar consulta de pré natal. Não houve nunca a hipótese de uma equipe humanizada e por mais que houvesse pouco dinheiro, dar-se-ia um jeito se fosse realmente me mostrado como a máfia funcionava.

 

Não procurei outro grupo, outras opiniões. Eu era mais uma que havia saído do pensamento comum e minhas ideias não iam tão além. Havia também uma preguiça da minha parte em buscar informações fora daquele grupo.

Fechei com a primeira doula que conheci na vida, nunca nem tinha ouvido falar nelas. Não houve tempo para decidir, pra criar muito vinculo, eram as reuniões no grupo e uma visita muito rápida de pré parto, que pra mim hoje, poderiam ter sido mais bem aproveitada se não houvesse somente uma aula de como trocar fralda, trocar fralda não tem regra, não tem dificuldade e a gente aprende, se não aprender, no máximo terá um bebê cagado e mijado.

 

No dia que entrei em TP percebi a primeira contração de cara, uma das poucas coisas que fiz de descente nisso tudo foi dormir nesse momento. As contrações se iniciaram ás 13/14 e eu dormi até as 18.

Dali até as 20/21 eu soube controlar a coisa… sala de casa, luz apagada, silencio… quando percebi que a coisa estava apertando e eu não conseguia mais ficar sozinha chamei a doula, marido estava cansado de trabalhar dia todo, tínhamos noção que ia demorar e ele precisava dormir pra estar disposto na fase ativa. 22/23 nada de doula… foi chegar lá pelas 24 e tanta e eu já vocalizava muito. Ficava de quatro no sofá, precisava de massagem.

As 4 e pouco da manhã bolsa estoura, a partir dai, não consegui ter controle mais e me desesperei. Logo depois da bolsa, chamei meu esposo que estava dormindo e decidi que iria para o hospital. Tinha Strepto positivo e imaginava que precisava VOAR pro hospital porque foram isso que me disseram lá. A doula não me apresentou outra alternativa em momento algum.

Na saída de casa pro carro eu vomitei e percebi que ela quase vomitou junto. Meu marido limpou, colocou a mala no carro e fomos.

O caminho foi péssimo, caminho esburacado, e eu me perdia nas contrações, na concentração, tudo era nublado.

 

Chegamos ao hospital, uma demora sem fim pra nos atender, fizemos a ficha, enfermeira faz toque, 2 pra 3 cm, me desesperei ainda mais. Só 2/3 cm e eu sentido aquela dor do cão (não era dor, fui eu que me perdi no meu parto, não me conectei e desesperei, ai o que é pouco, parece muito). Enfermeira falou pra deitar pra fazer a tricotomia (uma das poucas vezes que vi a doula questionar algum procedimento foi aqui, ela perguntou se realmente havia necessidade, enfermeira disse que sim e ela disse ok) e eu já estava perdida o suficiente pra “por mim tanto faz”.

A espera pra desocupar uma sala de PPP foi dolorida. Tive que ficar em pé esse tempo todo no meio de um corredor. Quando me transferiram, foi o paraíso.

Ou era doula ou marido. Optei pela doula naquele momento.

Fui pro chuveiro, não conseguia ficar na bola, desisti logo daquilo. Uns 40 minutos acho que foi o máximo.

Fui pra cama e lá fiquei até a Luísa nascer. Sem movimento, sem andar, rebolar, NADA!

 

Uma enfermeira muito mal educada me “recepcionou”, a cada grito ela me olhava com cara feia.

Tinha zilhares de estudantes na sala. Todos querendo observar e aprender com o MEU PARTO.

Pedi água, foi negado.

Esse tempo foi de massagem vez ou outra, e uma água que a doula pegou uma única vez escondido, um tantico que nunca ia matar a minha sede.

Toques, muitos toques, acho que a cada cm recebi toque. Na maioria das vezes de pessoas diferentes, pessoas que eu nunca havia visto na vida.

Cheguei aos 7 pra 8 cm, dor insuportável, eu ainda deita.

A doula diz que me pediu pra levantar e andar, eu não lembro.

Nesse estagio pedi analgesia, era umas 11 hrs. A doula não me questionou, não enrolou pra pedir pra equipe. Quem enrolou pra chegar foi o anestesista mesmo…

Me deu a analgesia e de quebra ocitocina (pelo que lembro, pouca. Não me informaram).

Como um passe me mágica a dor ficou suportável, eu recobrei a memória e a cara de uma pessoa viva. Consegui conversar, e dizer o que queria ou não. Dali pros 10 foi relativamente rápido, ás 13 aproximadamente tive dilatação total. O que pra grande maioria dos médicos, significa forçar a gestante a parir e comigo não foi diferente.

 

Vai, força, força, força, vc tem que fazer força! Você não esta fazendo força direito, faz força!!!!

Se você não fizer força, vou tirar a fórceps! (Ele já havia mencionado várias vezes durante meu TP para pegarem o Simpson porque sabia que eu não daria conta).

 

Fiz uma força daquelas nunca feitas na vida. Já havia passado por tudo aquilo, não queria um fórceps nunca…

Em meio a essa força o médico diz: Tem rebordo não vai sair sem episio, vou corrrrrr e cortou. Uma episio enorme, Lu saiu.

Uma episio pra estagiária aprender a como suturar. O efeito da analgesia já tinha ido pro brejo e senti cada costurada.

Reclamei.

– Já aguentou o pior, agora aguenta costurar, falta pouco!

E assim foi meu parto violento.

Meu pós parto não começou diferente.

Milhares de estudantes passando pra apertar o bico do meu seio e alguém vindo perguntar toda hora se eu havia feito cocô.

A gente aprende a mentir e dizer que sim.

 

Minha primeira noite com a Lu foi traumatizante. Era nós e mais 5 mães e 5 bebês na sala. Um chorava todos choravam.

No alto na madrugada, Lu mamava por 2 horas seguidas sem tirar a boca, eu não havia dormido ainda desde o inicio do TP, andei pelo corredor do hospital  procurando alguém porque não achava aquilo normal. Não achei ninguém.

A enfermeira se negou a me ajudar bar banho porque disse que eu tinha que aprender desde o inicio a me virar.

Vinham medir toda hora o nível de bilirrubina e toda vez dava alterado.

No dia da alta, estávamos no limite, cogitaram em deixar a Lu pra fazer foto, eu implorei pra não ficar. Nos liberaram, mas no dia seguinte teríamos que voltar lá pra medir.

Chegar em casa e dormir ao menos 2 horas era luxo. Se não quisesse ficar naquele hospício tinha que fazer um intensivão de peito e baixar aquele nível.

E assim foi meus primeiros dias de pós parto. Nada romântico.

A doula apareceu meses depois pra visita de pós parto.

Fim

 

Evellyn

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