Manuella

Janeiro de 2014 – 12h10 Bom… Eu sempre tive certeza que quando engravidasse eu iria querer parto normal. Isso nunca foi uma dúvida para mim. Quando engravidei, não fazia ideia de que o Parto Normal hoje em dia era um amontoado de procedimentos desnecessários.

 

Por sorte eu não tinha nenhum ginecologista em Campinas/Sumaré e ao iniciar o Pré-Natal a minha percepção das coisas mudou… Após a primeira consulta fui a um Grupo de gestantes, onde conheci minha Doula… Foi através do grupo que eu descobri o mundo do ‘Parto Humanizado’ e, claro, me apaixonei!!!

 

Já tinha decidido que teríamos nossa Manuella no hospital com equipe escolhida a dedo… Até assistirmos o filme ‘O Renascimento do Parto’… Saímos do cinema com o Thi dizendo: Vamos tentar Parto Domiciliar!? Topei de primeira… E nossa equipe também… Porém, a Manu teimosa sentou com 30s e assim ficou até o final da gestação, impossibilitando nosso PD.

 

Com 36s fizemos um ultrassom e o ILA (índice do líquido amniótico) deu 64, o que é considerado baixo… E a recomendação foi tomar 4L de água diariamente e assim foi feito… Havíamos pensado em fazer a VCE (Versão Cefálica Externa), porém pelo baixo liquido e alguns outros motivos, decidimos não fazer… Começamos um acompanhamento semanal do ILA… Na semana 37 deu 60… E na semana 38 deu 69… Em consulta, um dia antes do nascimento, decidimos deixar rolar mais uma semana, já que o ILA havia aumentado, para ver o que aconteceria, antes de decidirmos qualquer coisa com relação ao parto… Mas eu sempre disse que ela nasceria como quisesse. E assim foi… Como diz o paizão, a Manu começou a trabalhar às 4h da manhã.

 

Acordei as 2h30 com uma colicazinha bem fraca, tipo menstrual… Levantei, fui ao banheiro, voltei e dormi… Nada demais… Acordei novamente às 4h, com essa mesma cólica, só que mais chata… Ainda do tipo menstrual… Chata demais… Resolvi tomar um banho… Sai do banho e dormi novamente… Por 15min… Acordei com uma dor ‘diferente’… Não sabia dizer como era… Mas era diferente… Resolvi escrever uma mensagem para minha doula, mensagem essa que nunca foi enviada, quando terminei a mensagem, travei… Senti algo escorrendo lá em baixo.

 

Com cara de susto fui pro banheiro e lá estavam o tampão e o liquido da bolsa que acabava de estourar… Liguei para a doula… A orientação era continuar dormindo… Descansando se possível e quando levantasse efetivamente, deveria me alimentar… Mas quem disse que consegui deitar… A ansiedade já tinha me despertado… E o maridão também… Descemos, tomamos café e começamos a controlar as contrações… Que era bem fracas e espaçadas… Mas quando elas vinham eu ‘bugava’ como disse minha irmã… Simplesmente entrava no mundo da contração e esperava ela ir embora… E assim foi, comi, tomei banho, cortei e lixei minhas unhas que estavam grandes e iriam machucar a Manu, conversei com minha querida Marina pelo face, publiquei nos grupos que foram tão importantes durante a gestação, falei com a minha mãe, dei patada na minha irmã, lembrei de marcar banho para o cachorro… Até 9h45 da manhã… Onde as contrações pegaram forte… (a cada 1 ou 2 minutos, com duração de 30 ou 40s).

 

Ligamos para a Doula às 10h, exatamente no momento em que não conseguíamos mais controlar o tempo e duração das contrações, o ultimo registro é as 9h56, com duração de 33s… Ou melhor, o marido ligou, porque eu já não conseguia mais falar por muito tempo… Enquanto esperava a Doula chegar, ainda tomei mais um banho e fiquei o tempo todo na bola de pilates… Melhor posição que encontrei… Perdendo líquido e tampão… A querida Doula chegou em casa 11h… Fez o exame de toque (ah, vale lembrar, que ela é EO além de Doula e que esse foi o primeiro da gestação inteira). Nesse momento a feição da doula mudou… De tranquila para urgente… Perguntou pro Thi se o carro já estava pronto que deveríamos sair imediatamente… O plano era sair de casa para o hospital com aproximadamente 5cm de dilatação… Porém eu já estava com 9cm… (isso só ficamos sabendo alguns minutos após o nascimento da Manu).

 

Chegamos em 30min… Sem dúvidas que algumas multas de velocidade chegarão aqui em casa… Mas o pior foi ter que ir no banco de trás… De 4, com a cabeça colada no banco e a bunda pra cima… Mas não… Isso não foi o pior… O pior foi ter que ir respirando ‘cachorrinho’ quando a minha vontade era de fazer força… Mas tive que segurar a Manu até o hospital… Lá chegando me colocaram em uma cadeira de rodas e queriam me levar para a triagem… Lembro de ouvir a Doula dizendo: ‘Não, ela tem que ir para o CO… você não tá entendendo…’ Mas ainda assim a enfermeira queria que eu passasse pela triagem, aí o maridão tirou a cadeira da mão da enfermeira dizendo: ‘Não, ela não precisa’… Lembro de me trocarem no elevador… E nesse tempo eu ainda não podia fazer força como meu corpo pedia… Chegamos no CO…me colocaram na maca, ainda de 4 e logo em seguida minha médica chegou… me examinou e disse: ‘Ah! Dá tempo de ir no banheiro.’ E eu em meu desespero disse: “Ah não, não dá tempo…’ Mas ela foi assim mesmo… O Thi já estava na minha frente, segurando minhas mãos, respirando comigo… em uma contração gritei que precisava fazer força que não aguentava mais segurar… e ouvi então um coral, da Doula, da obstetra e da neonatologista que eu já podia fazer força, sempre que meu corpo pedisse… e foi um alivio poder fazer isso…porém demorei um pouco para conseguir mudar da respiração ‘cachorrinho’ para o ‘fazer força’…

 

Nesse momento olhei para o Thiago e perguntei o que aconteceria se eu quisesse desistir e ele disse que nada, porque não daria mais tempo e que eu iria conseguir.

Após algumas pouquíssimas contrações ouvi a obstetra dizer que as coisas não estavam evoluindo e que deveríamos tentar uma coisa diferente… Entre as contrações pediram para eu descer da maca e sentar na banqueta de cócoras…com o apoio do Thi atrás de mim e a obstetra sentada no chão na minha frente! A Doula e a Neo filmando tudo…

 

E veio então a contração, consegui segurar o ar e fazer toda força possível e imaginável… Ouvi nesse momento a Dra. Falando: ‘olha que evolução’…e senti então o tão famoso Circulo de Fogo e falo, quando ele começa, a gente só quer que ele acabe…porque queima demais! Não dá pra comparar com nada… Lembro de pedir para tocar o bumbum da Manuella e a obstetra disse que eu podia…e eu toquei. Parecia uma bolinha, gosmentinha. Sentimento delicioso. Queria que o Thi pudesse ter tocado também… (mães, toquem seus bebes no momento do nascimento, é sensacional…) Lembro de ver a obstetra ameaçando colocar a mão embaixo em dois momentos e voltar para trás, porque ela ainda não havia saído.

 

Senti o bumbum saindo e o corpinho…mas foi só, não conseguimos (eu e Manu) tirar um bracinho e a cabeça…esse momento foi o primeiro em que a Dra. encostou em nós, para nos ajudar…tirou um ombrinho e a cabecinha dela… O alivio do circulo de fogo é imediato…da mesma forma que ele começa do nada, ele acaba do nada e é como se nunca tivesse existido.

 

No momento em que a Manu nasceu, eu não tive coragem de olhar para ela nas mãos da Priscila, pois eu sabia que ela estava molinha e não estava respirando 100%… Ouvi a obstetra dizer que precisava cortar o cordão, urgente! Vi a movimentação e a bebê indo para o colo da Neo, me soltei nos braços do Thi e fiquei me perguntando se ficaria tudo bem, por poucos minutos, bem poucos até me falarem que ela estava bem e respirando normal, após um pequena ajuda da Pediatra. Apenas com o balão de oxigênio, nenhum procedimento invasivo foi necessário.

 

Me ajudaram a voltar para a cama e pouquíssimos minutos depois a Manuella estava no meu colo, toda gosmentinha e linda! E nesse momento me apaixonei, e me apaixonei novamente pelo meu marido que foi o mais maravilhoso de todos no mundo, que me apoiou em todos os momentos, tomou as atitudes certas, nos momentos certos, as palavras certas… ele foi simplesmente perfeito!

 

Manu não recebeu colírio, não teve nenhum tipo de aspiração, nenhuma vacina…a única coisa que decidi, ali na hora foi aplicar a vitamina K, e essa foi feita no meu colo, no calor dos meus braços, do meu peito…

 

Tive uma laceração que rendeu 3 pontos…e nem me importei com ela… Ficamos 2 dias no hospital porque a Manu precisou fazer um acompanhamento de Glicemia por ter nascido com baixo peso (2.550Kg e 45cm) mas ela não saiu do meu lado em nenhum momento…para nada!!! Apenas para as primeiras medidas e ainda assim foi junto com o Pai.

 

1h30 depois de nascer, aproximadamente, ela já estava mamando…coisa mais especial que já vivi… Só tenho uma coisa para dizer: Faria tudo novamente!

 

Obrigada equipe maravilhosa que me acompanhou e Thiago…sem vocês eu sei exatamente onde teria acabado: Em uma cesárea…desnecessária! Obrigada por fazerem desse momento único ainda mais especial do que eu esperava que fosse! E obrigada Manuella, por permitir que eu vivesse isso…vivesse com você essa experiência única em nossas vidas!

 

Te Amo mais que tudo Filha! Você é a minha vida! Thi, te Amo um pouquinho menos do que amo a Manu…mas te Amo mais do que antes! Vocês são tudo na minha vida! Para sempre!

 

Amanda

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